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Do Interior à Capital: A Trajetória De Graciana Soares E A Missão De Dar Visibilidade Aos Invisíveis No 1º Registro Civil De São Luís

Da experiência no interior aos desafios do 1º Registro da capital, a titular e presidente da ARPEN/MA destaca o papel do registrador como o guardião da cidadania.

A carreira notarial e registral muitas vezes surge como um caminho inesperado, uma porta que se abre para novos horizontes. Para Graciana Fernandes Gomes Soares, titular do 1º Registro Civil de Pessoas Naturais de São Luís, a entrada no extrajudicial marcou uma transição decisiva: deixar a atuação como analista judiciária para assumir a linha de frente da cidadania. Prestes a concluir seu mandato na presidência da ARPEN/MA (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Maranhão), Graciana revisita sua história, marcada por mudanças geográficas, aprendizados técnicos e, acima de tudo, uma gestão focada em pessoas.

A jornada de Graciana começou em agosto de 2013, quando assumiu sua primeira serventia em Maracaçumé. O desafio inicial foi gigantesco, atuando em um Ofício Único onde precisou gerir, simultaneamente, as seis especialidades cartorárias. “A realidade é muito diferente do que a gente vê nos livros. Quando você assume, toma a verdadeira dimensão da responsabilidade. É preciso se especializar o tempo todo, acompanhar a legislação que muda e, principalmente, aprender a ser gestora”, relembra.

Após dois anos de intenso aprendizado, em 2015, uma audiência de reescolha a levou para Santa Luzia do Paruá. Lá, assumiu o Registro de Imóveis, Notas e Protesto em um momento pessoal delicado e transformador: a maternidade. “Foi desafiador conciliar o início no novo cartório com o final da gravidez e os primeiros meses da minha filha. Mas fui muito bem acolhida pela comunidade”, conta. Em Santa Luzia, liderou processos importantes de modernização, como a migração dos antigos livros manuscritos para o sistema de matrículas, além de manter o cartório funcionando como serviço essencial durante os momentos mais críticos da pandemia, sempre priorizando a segurança sanitária.

Em junho de 2021, após novo concurso, a busca por estar mais próxima da família e evitar as constantes viagens trouxe Graciana para a capital. Ela assumiu o 1º Registro Civil de São Luís, uma serventia de grande porte, localizada no Centro Histórico, que demandava uma gestão firme e dedicada para reorganizar processos e recuperar seu acervo histórico. Ao chegar, encontrou um cenário que exigia ação imediata. O cartório possuía um acervo rico, porém desgastado pelo tempo, e instalações que já não comportavam a demanda da população ludovicense.

“Minha primeira missão foi mudar o cartório de lugar. Precisávamos de um espaço que oferecesse dignidade tanto para os funcionários quanto para o cidadão”, explica. A gestão dinâmica resultou em duas mudanças de sede em três anos, buscando sempre a melhoria contínua da estrutura física e do atendimento. Sob sua liderança, a equipe saltou de 7 para 30 colaboradores, com plano de cargos e salários e foco na capacitação.

Mais do que a gestão administrativa, Graciana destaca a função social vital do RCPN. Ela fala que ser registradora civil vai muito além de carimbar papéis. É uma missão social. O Registro Civil é a especialidade que acompanha o indivíduo do primeiro ao último suspiro.

“A vida civil começa e termina com o registrador. A pessoa só passa a existir para o Estado, a ter direitos, a ser vista como cidadã, depois do registro de nascimento”, destaca.

Essa visão humanizada ganha força em ações como o Programa Registre-se, uma iniciativa do CNJ abraçada pelos cartórios maranhenses, focada em erradicar o sub-registro. Para Graciana, combater a falta de registro é combater a invisibilidade social.

“Ter pessoas que não têm registro até hoje é uma falha que precisamos corrigir. Sem o documento, a pessoa não existe: não tem acesso à saúde, à educação, a benefícios sociais. Nossa missão nos mutirões e no balcão do cartório é tornar essas pessoas vistas pela sociedade, é devolver a elas a dignidade de ter um nome e uma certidão”, afirma.

À frente da ARPEN/MA e da 1ª Zona, Graciana reforçou o papel do cartório na desjudicialização, facilitando a vida das pessoas com agilidade em retificações, reconhecimentos de paternidade e alterações de prenome.

Ao encerrar seu ciclo na presidência da associação, ela deixa a mensagem de que a eficiência técnica deve caminhar de mãos dadas com a sensibilidade. “O Registro Civil não é para qualquer um. É para quem tem empatia. O cidadão chega aqui muitas vezes com a vida travada, e a nossa satisfação é entregar o documento que permite a ele seguir em frente, viajar, casar, viver. É sobre destravar sonhos através da cidadania”, conclui.

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